EMILIA DE BENEDICTIS

Emilia De Benedictis

Emilia e Sylvia, Sylvia e Emilia
E porque me foi dada, pelas circunstâncias, a oportunidade de conhecer estas duas grandes musicistas – mais do que elas se conheceram entre si – penso que posso fazer uma aproximação de seus perfis, o humano e o artístico.

Ambas nasceram e cresceram em famílias em que pontuava um grande interesse e muita atividade em torno da música fina. Emilia era filha do maestro Savino De Benedictis e Sylvia, de Ida Bianconi Maltese, pianista e professora, recentemente falecida. O ambiente em que floresceram como pessoas e como artistas era mais que propício, era definido e definitivo, para quem nasceu com talento e o revelou desde a mais tenra idade. Mas só isto não basta para moldar uma personalidade musical. É preciso muito mais, é preciso algo visceral, uma verdadeira vocação, que se imponha e em nenhum momento deixe a dúvida frutificar ou a certeza das dificuldades trazer o esmorecimento.

A vida de ambas é uma seqüência de duas gerações em que a arte pianística se expande e produz grandes personalidades. O gosto musical apurado é, na época, como uma nuvem que paira sobre o público e principalmente sobre os intérpretes. No mesmo ano em que Sylvia nasce, Emilia é escolhida para representar o Brasil, com outros dois pianistas brasileiros, em concurso internacional em homenagem aos cem anos de falecimento de Chopin. Doze anos depois, Sylvia, ainda uma menina, é solista de um Concerto de Mozart no Teatro Municipal de São Paulo.

Emilia consubstanciou todo seu estro em uma obra pouco numérica – vinte títulos – mas de grande profundidade. E Sylvia, com o apuro que sua formação lhe garantiu, levou às últimas conseqüências a leitura e a interpretação destas vinte peças: quinze pela leitura das partituras, e, com grande esforço, através da transcrição que ela mesma fez, de outras cinco peças que estavam apenas gravadas.

O resultado traz à tona, de forma clara, a personalidade da autora. Pois criadora e intérprete se parecem, não como sombra uma da outra; mas se refletindo na intensidade do brilho pessoal de cada uma.

Há um lindo poema de Cecília Meireles, Sugestão, que começa: “Sede assim – qualquer coisa / Serena, isenta, fiel”. Acho que este é o maior elogio que podemos fazer a Emilia e Sylvia: são ambas igualmente serenas, isentas, fiéis. Por esta afinidade, o resultado desta gravação é tão comovente, tão completo. Um verdadeiro retrato de duas grandes artistas.

Nilcéia C. da Silva Baroncelli

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